Elevada concentração é apontada como razão para juros demorarem a cair (Maeli Prado)
Os quatro maiores bancos do país concentram 78,51% de todos os empréstimos feitos por instituições financeiras no Brasil, divulgou o Banco Central nesta terça-feira (17).
Essa concentração se mantém no patamar de 78% desde junho de 2016. Há 10 anos, esse patamar dos quatro maiores bancos era de cerca de 54%, o que mostra o quanto a concentração bancária avançou no país.
Itáu Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa ainda detém 72,69% de todos os ativos bancários e 76,35% dos depósitos.
Os dados divulgados nesta terça são referentes a dezembro do ano passado.
SPREAD
A elevada concentração bancária é apontada como uma das principais razões dos spreads (diferença entre o que os bancos pagam para captar e o que cobram na ponta) elevados no Brasil.
Apesar de a taxa de juros básica da economia, a Selic, estar em 6,5% ao ano, o nível mais baixo da história, houve pouco efeito nos juros na ponta, ao consumidor.
Dados do BC indicam que o spread nos empréstimos à pessoa física começou a baixar em março do ano passado.
Boa parte do recuo, entretanto, se deveu às mudanças ocorridas em uma única linha, o rotativo do cartão de crédito, que foi alterado por determinação do BC.
ATIVOS PROBLEMÁTICOS
O diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, afirmou nesta terça que os ativos problemáticos de grandes empresas que fazem parte da carteira de crédito das instituições financeiras merecem atenção do BC neste ano, mas que a piora vista nesse sentido em 2017 pode ter decorrido do fato de o estoque de crédito nesse segmento não ter crescido.
Com isso, argumentou ele, os ativos problemáticos passaram a ter maior representatividade. Em coletiva de imprensa, ele também chamou atenção para o fato de os créditos às grandes empresas serem geralmente mais longos, o que faz com que permaneçam um bom tempo na carteira dos bancos.
Em seu Relatório de Estabilidade Financeira publicado nesta manhã, o BC indicou que a carteira de ativos problemáticos das grandes firmas subiu para 7,2% em dezembro de 2017, sobre 4,9% um ano antes. E apontou que essa deterioração se deu principalmente no setor de construção, madeira e móveis e no setor de transportes.
No ano passado, os ativos problemáticos subiram a 22,32% da carteira ativa no setor de construção, madeira e móveis, contra 16,79% em dezembro de 2016. No setor de transportes, o aumento foi de 11,23% para 15,25%.
O BC avaliou no documento que o cenário mais positivo na economia já tem reflexo claro para as empresas de pequeno e médio porte, o que ainda não aconteceu para as grandes corporações.
A autoridade monetária destacou uma série de razões para tanto: "O estoque de operações de empresas em dificuldade financeira é significativo; a geração operacional de caixa dá sinais de melhora, mas ainda em níveis baixos; a pré-inadimplência se mantém em patamar elevado; e não se visualiza uma estabilização no estoque de ativos problemáticos."
Em coletiva de imprensa, o diretor de Fiscalização foi um pouco mais otimista.
"O fator positivo que a gente tem em relação a isso é... que o ingresso de novas recuperações judiciais reduziu bastante, situações não estão se agravando, e você já começa a perceber claramente melhora na geração de caixa para pagarem suas dívidas", disse ele.
No relatório, o BC também apontou que o maior motivo de preocupação do sistema financeiro brasileiro passou a ser o cenário político e o risco fiscal, no lugar de recessão e inadimplência.
Mas ressaltou que o risco de liquidez continua sendo baixo e que os testes de estresse de capital mostraram "aumento da resiliência do sistema bancário" em todos os cenários simulados. (Fonte: Gazeta do Povo)