Desde 2021, após dois meses da implementação da nova forma de pagamento, os registros anuais de crimes contra instituições financeiras foram menores que seis (Por Clara Mariz) - foto divulgação -
A quantidade de registros de roubo a instituições financeiras, correios, casas lotéricas e caixas eletrônicos com uso de explosivos caíram drasticamente em Minas Gerais. Dados do Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que entre 2019 e 2024 houve queda de 96,4% das ocorrências. Especialistas creditam a mudança ao hábito financeiro da população, que têm escolhido fazer transações digitais, como o Pix.
Os registros ficaram mais recentes entre 2016 e 2018, quando foram computados 538 crimes (252, 191 e 95 em cada ano, respectivamente). O aumento foi creditado por agentes de segurança pública a ampliação de ataques que ficaram popularmente conhecidos como “novo cangaço”. A modalidade de roubo - parecida com a registrada em Guaxupé, no Sul de Minas, na madrugada de terça-feira (9/4) - aterrorizou cidades do interior de todo o país.
Ontem, em comunicado oficial após o ataque a uma agência bancária, um quartel da Polícia Militar de Minas Gerais e uma base da Guarda Civil Municipal, o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), afirmou que, apesar de trazer preocupação, o ataque, entendido como parte do “Novo Cangaço”, é uma exceção. “Há quase dois anos que nós não tínhamos nenhuma ocorrência no estado, mas temos a sorte de não termos nenhuma vítima mais grave nesse atentado”, afirmou.
Para o especialista em segurança pública Jorge Tassi, a queda nos crimes de ataque a locais em que comumente possuem uma grande quantidade de dinheiro em espécie, como correios, casas lotéricas e caixas eletrônicos pode ser explicado pela mudança no hábito econômico da população. Desde 2021, após dois meses da implementação do Pix, os registros anuais foram menores que seis. Em 2020, 14 ocorrências haviam sido registradas, no ano seguinte, cinco - uma queda de 64,2%.
“É importante nós entendermos que hoje, no mercado do crime, não há espaço para este tipo de crime. Ele gera violência, estresse e não gera receita. E não gerando receita ele se transforma inviável para quem os está cometendo. Nós não lidamos mais com esse dinheiro em papel, hoje nós lidamos com dinheiro digital, e em relação a ele tem um outro tipo de crime envolvido. Ou seja, essa violência, que a gente viu, que é empregada em roubos a instituições financeiras, ela não tende a prosperar. Não é o trabalho de prevenção da polícia, é o trabalho do mercado do crime que mudou radicalmente”, diz.
Ao contrário dos roubos a instituições financeiras, os registros de crimes cibernéticos dispararam. Nos primeiros meses deste ano, ao menos, 10.541 pessoas foram vítimas de estelionato cibernético. Ao longo de 2024, de acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, 56.411 denúncias foram registradas.
Apelidado de “171”, referência ao artigo que tipifica o crime no Código Penal, o estelionato se qualifica como qualquer situação em que o golpista busca obter alguma vantagem sobre sua vítima no ambiente virtual. A prática criminosa induz a pessoa ao erro e, geralmente, mexe com a inocência e ambição das pessoas com a promessa de altos retornos materiais.
Segundo o advogado especialista em Direito Digital, Alexandre Atheniense, os golpes são baseados em duas premissas. “Uma é que a tecnologia favorece a prática do anonimato, a pessoa cria um perfil se fazendo passar por um parente ou amigo para aplicar um golpe por WhatsApp, por exemplo. Segundo, a certeza de que vai haver impunidade, ou seja, a vítima não vai saber reagir ao sofrer o golpe”, explica ele.
O advogado também ressalta que a reação da vítima deve ser a mais rápida possível. “Os casos em que as vítimas percebem que o golpe aconteceu e demoraram para reagir e enfrentar, diminui as chances e a probabilidade de ter êxito para recuperar os danos sofridos”, afirma.
As modalidades de golpes digitais são inúmeras, podendo ocorrer em diferentes contextos e canais como sites, redes sociais, e-mails e aplicativos. Entre elas estão: leilão falso, boleto falso, motoboy, falsa vaga de emprego e empréstimo.
Novo Cangaço ou ação isolada?
Jorge Tassi afirma que a ocorrência em Guaxupé, apesar de flertar com características de roubos anteriormente vistos no estado e popularmente conhecido como Novo Cangaço, foi um fato isolado. Ele explica que, nas ocorrências registradas até então, normalmente, mais de uma instituição bancária era alvo do ataque. A movimentação, junto com ataques diretos a bases policiais, deixava as forças de segurança ocupadas.
“Em regra, as agências não têm valores altos em caixa. Tanto que as outras agências da cidade não foram atacadas. Então, não se assemelha àquilo que nós víamos dos grupos atacarem cinco ou seis agências para poder fechar o plano de negócios e, assim, ter algum lucro com aquilo. Me parece que foi algo muito mais local, ou seja, pode ter ligação a uma informação, aparentemente privilegiada, que levaria essas pessoas a praticar esse crime”, explica.
Outro ponto apontado pelo especialista é que a conduta adotada pelos suspeitos foi de crime organizado, no entanto, o excesso de uso de explosivos, apontado pelo delegado da PCMG em coletiva de imprensa, pode detalhar que o plano pode ter sido mal executado.
“Óbvio que essa conduta mostra poder de fogo, estrutura e que despreocupação com a norma demonstrando que os suspeitos são profissionais. São fatores que de forma nenhuma podemos afastar. É importante entender porque o crime foi localizado, se de fato foi uma informação que os levou até ali, ou se, no meio do crime, eles perceberam que não conseguiriam buscar outras agências, mas não é o que me parece, já que eles acuaram a polícia no quartel”, disse. (Fonte: Estado de Minas)
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